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quarta-feira, 2 de julho de 2014

O que vai podre no Reino do futebol? - Episódio 1

Está a voltar o futebol nacional. As equipas estão a começar a trabalhar e os adeptos começam a fervilhar. O mercado agita-se e os milhões são gastos como se falássemos de tostões.
Mas o futebol português continua a ser um imbróglio.
As eleições para a Liga de Clubes foram uma desgraça e continuam num impasse.
Os meandros do futebol continuam na mesma.
Mas o processo "Apito Dourado" veio mudar alguma coisa. O que antes se falava em surdina, agora toda a gente o sabe. O grande problema é que se continua a mexer os cordéis das marionetas e as coisas continuam a ser feitas por detrás da cortina.
O último ano trouxe um novo movimento, o movimento "Basta", que pretende desmascarar todas estas suspeições e manipulações que o futebol tem vindo a sofrer.
Este movimento nasce no seio do Sporting Clube de Portugal, mas já abrange vários clubes e nomes honrosos da nossa sociedade.
Mas quando assistimos a Presidentes de clubes ditos grandes, que afirmam num meio de comunicação nacional que, para ganhar campeonatos tem que se ter as pessoas certas no lugar certo nas instituições que comandam o futebol nacional, alguma coisa está mal.
Por isso, e com algum trabalho de investigação, decidi transpor aqui o que foi a vida dos senhores que se auto-denominam os "senhores do futebol português", e como conseguem manter as aparências.
Começamos por Pinto da Costa. O senhor "Apito Dourado", que foi apanhado em escutas a dar gratificações a árbitros, a escolher equipas de arbitragem para os seus jogos, a manipular castigos de jogadores de outras equipas e que era (ou ainda é, quem sabe?) informado de todas as decisões que se passavam nos bastidores do futebol português.
Como as escutas são públicas, toda a gente pôde ter acesso à vergonha que se passava. Palavras como "fruta", "café com leite, claro ou escuro" e "rebuçados" passaram a fazer parte do léxico futebolístico. Nessas mesmas escutas, ouvimos indicações precisas de Pinto da Costa para um árbitro de como chegar a sua casa, e temos ainda informações de testemunhas presentes, divulgando que envelopes com dinheiro eram entregues aos mesmos.
Mas tudo isto passou ao lado da justiça. Os inspectores da Polícia Judiciária foram afastados do caso e alguns despedidos. A procuradoria da República preferiu não mexer neste assunto, pois algumas verdades poderiam ser descobertas.
Tentou-se de tudo para parar a investigação. Desde intimidações por parte de pessoas ligadas ao Porto, até ameaças e, ao que parece, chegando mesmo a haver agressões.
Mas nunca interessou à justiça o que se passava no "reino da babilónia". O futebol era tratado como uma família real, que não tinha obrigações com a lei e que estava acima de tudo e de todos. E os mesmos continuaram a manipula-lo como bem quiseram. A verdade nunca foi reposta e a justiça nunca foi feita. Já lá vão 11 anos.
Por aqui me poderia ficar, mas do lado de Carnide temos também uma personagem interessante.
O Luís Felipe Vieira, o senhor que os adeptos de Carnide apelidam de "Salvador" (não é o do Braga, esse será desmascarado noutro dia).
Esse senhor, sócio nº 17599 do Porto, e amigo pessoal de Pinta da Costa desde 1984, como documenta um seu amigo ao JN em 2006, foi presidente do Alverca. Então nesse cargo, e juntamente com Jorge Mendes, adquiriu Pedro Mantorras a um clube angolano por 1M de euros. Desse negócio, nasce um processo de fraude fiscal aos dois senhores. Apesar das provas, só Jorge Mendes é condenado.
Mais tarde, as escutas do "Apito Dourado" viram-se também para o Benfica. É escutada uma conversa entre José Veiga e Pinto de Sousa, o homem que tratava das nomeações dos árbitros. Estamos na época 2003/2004. Veiga, homem forte do futebol de carnide, pede que seja nomeado Devessa Neto para o jogo Benfica - União da Madeira para satisfazer Luís Filipe Vieira, porque ele anda zangado. Pinto de Sousa vai mais longe, e pede ajuda ao Veiga para escolher dois árbitros internacionais, dois que o Benfica considerasse. A resposta de Veiga assume a culpa de Viera: "Eu vou ligar ao Luís Filipe e já lhe ligo".
Acham que chega... Não... Ainda há mais...
O senhor do povo, o senhor "honesto", que tanto se gaba de ter a quarta classe (o que não deixa de ser verdade) conseguiu burlar o BPN em 14M de euros. Sim, leram bem, aquele banco que todos os portugueses andam a ajudar a pagar o buraco lá deixado, foi burlado em 14M de euros por Vieira.
Segundo a revista "Sábado", o processo aberto pelo Ministério Público investiga indícios de burla e falsificação de documentos, no âmbito de um empréstimo bancário destinado a adquirir acções da Sociedade Lusa de Negócios, acções essas que já pertenceriam ao Vieira.
Vamos agora às claques. Vieira sempre afirmou perante as câmaras de televisão que os NN Boys não eram uma claque Benfica, ou seja, não eram claque oficial. Pois é, mas aqui há também uma história.
De acordo com um relatório policial, Vieira reuniu-se a 18 de Junho de 2008 com "Zé Gago", elemento dos NN, oferecendo-lhes total apoio, devolvendo-lhes a sede e prometendo ainda que Paulo Dias (Chefe de segurança do Benfica que ajudou a Policia a identificar 31 membros violentos dos NN) seria despedido. Escutas no telefone de Hugo Caturno (membro dos NN) em conversa com "Zé Gago", apanharam este último a verbalizar frases como "ele vai tratar da policia em três tempos", "ele vai correr com o Paulo Dias" e "vai dar-nos a sede e eles pagam as obras".
A verdade
é que, segundo o mesmo relatório policial, Vieira indagou mesmo Diamantino Gaspar, Comandante da PSP de Benfica, para "aliviar" a presença policial junto dos NN.
Este relatório foi enviado para a FPF que, de acordo com a lei em vigor daquela altura, deveria ter suspendido a actividade desportiva do Benfica pois a direcção do clube "não cumpria a lei e cedia bilhetes a preço reduzido e instalações" a claques ilegais.
Havia mais para escrever, mas infelizmente a minha consciência e a falta de provas documentais não me deixam.
O futebol continua a fervilhar com este início de época.
A bola está a começar a rolar, as equipas a apresentar-se e os adeptos já estão com ânsia de ver os novos reforços em acção.
Mas, infelizmente, o futebol continua  mesma podridão das épocas passadas e, nem as escutas, nem a justiça mudaram alguma coisa.

Esperemos por mais capítulos, tenho muito mais para escrever.